21 julho, 2012

Sexta, 20 de julho de 2012. "memorável"


            [essa foto, é da carreta onde estava o gabriel e seu pai, que infelizmente faleceu]


Conversas, de repente desvio de 3 carros, poeira e um milésimo de segundo depois: explosão.
- Tia, o que é isso?
- Não sei, acho que foi acidente.
- sério?! não pode ser!
- CARALHO FOI UM ACIDENTE, ENCOSTA O CARRO QUE EU PRECISO DESCER!
corrida, duas carretas em chamas, um garoto desesperado com os braços queimados.
- Tem alguém ali?
- Meu pai tá lá!
- Aonde?
- Lá! [aponta pra carreta totalmente em chamas]
e por 2 segundos olhei aquele garoto e senti uma cumplicidade com ele.
explosões de pneus, mais corrida.
- Tem alguém ferido aqui nesta?
- Tem!
- Aonde? 
- Ali dentro do mato!
- Vamo gente! tem que ser rápido!
-  SAI DAÍ QUE VAI EXPLODIR ESSE TAMBOR DE ÓLEO!
- [um homem pálido diz]; cara... vai alguém lá que eu não vou dar conta... o cara ta sem uma perna e um braço.
- carregam o outro caminhoneiro ferido.
- Trás pra cá, pra cá gente! vamo, vamo vamo! Deita ele aqui. Preciso de panos, coberta, lençol, QUALQUER COISA PRA ESTANCAR O SANGRAMENTO!
- Qual seu nome?
- "dico"
- Oi dico, me chamo Francis, sou socorrista e tô aqui pra te ajudar.
- tô sem perna dorna..
- Não, não está. mas está bem ferido.
sangramento estancado do joelho esquerdo lacerado, estancando sangramento da cabeça.
- Oi, meu nome e Sivaldo, sou socorrista, precisa de ajuda?
- Preciso, ele está com uma lesão grave no joelho esquerdo, laceração severa e um ferimento na região do crânio que não consegui avaliar, está sangrando mas foi pouco sangramento.
- Ei moça, tem um garoto com os braços queimados e ele tá precisando de ajuda!
- Silvaldo, vou lá.
Mais explosões..
- Qual é seu nome?
- Gabriel [chorando]
- Qual é sua idade gabriel?
- 14. tia, tá doendo muito! faz alguma coisa tia pelo amor de deus, me ajuda!
- Gabriel, você está com queimadoras de 2° grau, a única coisa que posso fazer é jogar água pra resfriar sua pele, mas prefiro passar soro e a ambulância do SAMU está chegando.
- tia ajuda meu pai, coitadinho do meu pai meu deus do céu! ele tá lá e não conseguiu sair e tá morrendo queimado tia!!!
[silêncio]
corre mais uma vez pro primeiro socorrido.
- Dico? você me ouve?
- Tô aqui dona.. tô com muita dor na perna.
- Não meche ela agora ok? sei que tá doendo mas não pode mecher agora...
- Você tem filhos, família dico?
- Tenho 2 filhos, perdi minha mulher. são 2 meninos, meus documentos tão na  minha carteira, no bolso.
- Que bom dico, você vai voltar pra eles ainda hoje, fica tranquilo.
- Não vou dona, vou morrer aqui, tô sentindo... mais 10 minutos e eu vou morrer.
- Não vai ser dessa vez dico, você tá bem.
- Minha mulher tá aqui dona.
[pausa, chama pela mulher, pedidos de perdão, choro..]
Ambulância do SAMU encosta.
Dico e Gabriel foram embora. Não sei da onde são e nem para onde vão... assim como eles não sabem quem eu sou. Mas de uma coisa tenho certeza: não vou esquece-los tão facilmente.


atraso de 4 horas na viagem, mas uma lição que nunca mais será esquecida.

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